Neurodiversidade: conceito e principais desafios


Compreender o significado da neurodiversidade é essencial para promover uma sociedade mais inclusiva.

Ao reconhecermos que as pessoas não são todas iguais, inclusive em relação às suas características neurológicas, podemos criar ambientes diversos e respeitosos, que deixam de considerar as diferenças como limitações.

Neste artigo, você terá a oportunidade de aprofundar-se nesse tema relevante, seja em sua vida pessoal ou profissional. Afinal, as pessoas neurodivergentes merecem ter igualdade de oportunidades em todos os espaços que frequentam, certo?

Criado por Judy Singer em 1998, o conceito de neurodiversidade parte da ideia de que as diversas condições neurológicas encontradas entre os seres humanos são normais e, portanto, não devem ser encaradas como doenças ou incapacidades.

Isso implica que as variações nas conexões neurológicas das pessoas devem ser respeitadas da mesma forma que outras diferenças humanas já o são.

A neurodiversidade abrange todas as pessoas, incluindo aquelas sem alterações neurológicas ou no desenvolvimento (chamadas neurotípicas) e as que possuem transtornos ou deficiências mentais (conhecidas como neuroatípicas ou neurodivergentes).

É importante destacar que hoje a neurodiversidade é vista como um movimento social que busca a inclusão, com o objetivo de assegurar que essas pessoas tenham seus direitos respeitados e sejam tratadas com igualdade.

Distinções entre neurotípicos e neurodivergentes

O neurotípico é aquele indivíduo que não apresenta alterações neurológicas ou no desenvolvimento, funcionando conforme o padrão esperado pela sociedade, sendo considerado “normal e saudável”.

Por outro lado, o neurodivergente possui alterações neurológicas ou no desenvolvimento, resultando em um funcionamento fora do padrão socialmente esperado.

Alguns exemplos de pessoas neurodivergentes incluem aquelas com:

Transtorno do Espectro Autista (TEA)

O autismo é caracterizado por dificuldades na interação social, na comunicação e por padrões de comportamento repetitivos e restritivos. Pode variar em gravidade, com alguns indivíduos tendo sintomas mais leves e outros mais intensos.

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)

O TDAH se manifesta com desatenção, impulsividade e hiperatividade. Geralmente, os sintomas surgem na infância e podem afetar a capacidade de concentração e o controle motor.

Dislexia

A dislexia é um distúrbio da linguagem que dificulta a leitura e a escrita, afetando a associação entre fonemas e letras, o que pode comprometer a compreensão de textos.

Dispraxia

A dispraxia é um déficit neurológico que prejudica a coordenação motora, tornando tarefas como andar, comer e vestir-se mais desafiadoras, principalmente em crianças.

Síndrome de Tourette

Essa síndrome provoca tiques motores ou vocais múltiplos, geralmente começando na infância e persistindo por mais de um ano. Os tiques podem variar em intensidade e frequência e podem estar associados a outros distúrbios.

Desafios enfrentados pelos neurodivergentes

Em julho de 2023, a Lei 14.624 foi aprovada, oficializando o uso de fitas com girassóis como símbolo de identificação para pessoas com deficiências não visíveis, incluindo os neurodivergentes. Embora seja uma medida simbólica, é significativa para aqueles que lidam diariamente com o preconceito, a falta de informação e o reconhecimento.

Uma pesquisa realizada pela Play Pesquisa e Conhecimento, com o apoio da Nestlé, identificou que preconceito, falta de informação e reconhecimento são os principais desafios enfrentados pelos pais de crianças neurodivergentes. Esses desafios provavelmente acompanham os neurodivergentes ao longo de suas vidas, não se limitando à infância.

O preconceito surge da ideia de que os neurodivergentes estão fora do padrão, sendo vistos como doentes, o que os rotula como incapazes e inferiores. Na realidade, eles são indivíduos com funcionamentos diferentes, que, como qualquer pessoa, possuem pontos fortes e fracos.

As consequências desses estigmas e preconceitos afetam a vida pessoal e profissional dos neurodivergentes de diversas maneiras:

Menos oportunidades de emprego

Uma pesquisa do IBGE revelou que 85% dos profissionais autistas estão desempregados. No entanto, muitos neurodivergentes possuem habilidades valiosas, como foco e criatividade, que são altamente desejadas no mundo corporativo.

É possível que os neurodivergentes tenham carreiras bem-sucedidas e duradouras, desde que a empatia e a igualdade de oportunidades sejam priorizadas pelas empresas.

Problemas de saúde mental

Outro ponto importante é que os neurodivergentes enfrentam problemas de saúde mental, como depressão e transtornos de ansiedade. Alguns podem ser vítimas de bullying e exclusão social desde cedo, o que contribui para problemas de saúde mental.

A terapia é uma ferramenta crucial para cuidar da saúde mental, pois ajuda os indivíduos a identificar gatilhos de estresse, aprofundar o autoconhecimento, lidar com emoções e desenvolver estratégias para enfrentar o sofrimento de forma saudável. Além disso, oferece um ambiente seguro para expressar medos e inseguranças.

Como acolher os neurodivergentes?

Cada pessoa, seja neurotípica ou neurodivergente, possui suas particularidades. A chave para criar ambientes mais inclusivos e respeitosos está na empatia e na escuta ativa.

Isso significa colocar-se no lugar do outro e ouvi-lo com atenção. Somente assim é possível oferecer apoio e compreender suas necessidades e desafios.

No dia a dia, a mudança começa com pequenas ações, como evitar discursos preconceituosos, estar ciente de vieses inconscientes e disseminar informações para reduzir estigmas.

Se você convive com uma pessoa neurodivergente em seu círculo social, é importante ressaltar a importância do cuidado com a saúde mental. A psicoterapia é benéfica para qualquer indivíduo, especialmente para aqueles que enfrentam preconceito, o que pode afetar a autoestima e desencadear transtornos mentais.

E o acolhimento no ambiente de trabalho?

Cada vez mais, as empresas reconhecem os benefícios da diversidade. Embora os neurodivergentes possam ter limitações e desafios, assim como todos, as organizações devem avaliar cada indivíduo individualmente, considerando que algumas funções podem se beneficiar significativamente das habilidades únicas dos profissionais neurodivergentes.

Para que esses profissionais se sintam confortáveis e capazes em seus papéis, é essencial que os colegas de trabalho e os líderes criem um ambiente de compreensão e aceitação da neurodiversidade, oferecendo o apoio necessário para que todos possam contribuir sem receios.

Para obter resultados positivos, a empresa deve cultivar um ambiente com segurança psicológica, onde todos se sintam à vontade para serem autênticos. Isso deve ser parte da cultura da organização, deixando claro que atitudes ou palavras preconceituosas não são toleradas.

Somente assim, com coerência entre palavras e ações, é possível construir ambientes mais igualitários, onde todos tenham oportunidades, independentemente das diferenças naturais entre seres humanos.

Os benefícios de um mundo que celebra a diversidade

Imagine um mundo onde todos fossem iguais. Seria monótono, não é verdade?

A diversidade é benéfica para a sociedade como um todo. Pessoas diferentes trazem perspectivas únicas sobre os mesmos assuntos, estimulando a inovação e a criatividade. Dessa forma, surgem soluções e ideias que beneficiam a todos, melhorando a qualidade de vida, a saúde e a felicidade.

Além disso, as experiências e características diversas facilitam a resolução eficaz de problemas, graças à complementaridade de pontos de vista.

Para as empresas, a diversidade não apenas promove a inovação, mas também pode aumentar os lucros, reduzir a rotatividade de funcionários e melhorar a reputação. Portanto, as organizações só têm a ganhar com ambientes que valorizam a diversidade.

Portanto, discutir a neurodiversidade deve ser uma prioridade em sua vida e em sua empresa. Lembre-se disso!


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